Pular para o conteúdo principal

COMO É A VIDA À BORDO QUANDO ESTAMOS EM UMA MARINA


Muitas pessoas perguntam sobre o que muda na vida a bordo quando estamos em uma marina.



Porque há algumas diferenças na nossa rotina quando estamos na âncora ou velejando e quando estamos na Marina.
Para quem não conhece , aqui vão algumas curiosidades sobre a vida a bordo que podem ser bastante surpreendentes:


ÁGUA

Quando navegamos usando o motor, aproveitamos para produzir água.
Quando nós temos bastante vento e não ligamos o motor, precisamos ligar o gerador para produzir água.
E quando estamos em uma marina, temos 2 formas de obter água. Uma é enchendo os tanques com uma mangueira (daquelas que se usa para regar plantas). A outra maneira é conectar  a mangueira do trapiche no barco e usar a água  sem que ela passe pelos tanques. Nem todos os barcos têm esse sistema. 
Como a água é um bem escasso nas navegadas e ancoragens, aproveitamos a estada na marina para lavar o barco usando água doce.

BANHEIROS

Temos 3 banheiros no Biguá.



Um na cabine  principal ( Ale e Márcio), um na cabine do Henrique e outro na cabine da Carol.






Cada um dos banheiros possui um Holding tank, ou tanque de dejetos, em português.
Este tanque possui uma capacidade que varia em cada barco. Os nossos têm 80 litros cada. Lembrando que nesses 80 litros estão incluídos, além dos dejetos, toda a água usada na descarga. A água vem direto do mar.
Durante as velejadas, o uso do WC é bem simples. Mantemos os Holding tanks abertos e todos os dejetos vão direto para o mar.
A orientação é estar a, no mínimo, 3 milhas da costa para liberar os dejetos.
Mas quando estamos ancorados ou em uma marina, os tanques precisam ficar fechados.
Nas ancoragens não há muito problema, pois normalmente não ficamos tempo suficiente para encher os tanques.
Mas nas marinas, é preciso gerenciar muito bem o uso dos WCs.
 Levamos um tempo para descobrir como os outros velejadores faziam, E, agora que aprendemos, nossa vida na marina melhorou muito!!
Nas marinas existem locais próprios para esvaziar os holding tanks. Confesso que não é uma tarefa muito agradável.  E nem um pouco prática: Precisamos tirar o barco da vaga, levar até o local onde há a bomba  e conectar a mangueira no tanque de dejetos (Argh!)




Fizemos isso algumas vezes.
É tanto trabalho que preferimos seguir nossos sábios vizinhos velejadores: quando estamos na marina, simplesmente não usamos o WC do barco!
 Mantemos os registros dos Holding tanks abertos e usamos o banheiro da marina. Eventualmente usamos o WC , mas somente para o “número1” .
 Parece algo complicado, mas acredite: É bem melhor do que ter que esvaziar os holding tanks ou pior: ficar com os tanques cheios! Isso sim é horrível!

BANHOS

Os banheiros do nosso barco são muito bons.
Mas tomar banho em um barco significa tomar banho rápido, afinal, temos que economizar água.
Muitas pessoas tomam banho no mar ou usam a mangueirinha de apoio no cockpit.
Mas nas marinas, o que vemos é uma grande movimentação de pessoas saindo com sacolinhas e toalhas pela manhã e à noite.
No início a gente não entendia porque, estando em um barco com um bom banheiro, na marina, com água disponível, à vontade, as pessoas saíam para tomar banho nos chuveiros da marina.
Pensamos sobre isso, seria para poupar as bombas do barco?
Nós optamos por usar os banheiros das marinas por diversos motivos: poupar as bombas, não ter que ligar o aquecedor de água e, o principal motivo: usar o sistema de esgoto em terra, assim a água do banho com sabonete e shampoo não vai direto para o mar.

LAVANDERIA



Esse é um dos pontos que determina se uma marina é boa. Estar próxima a uma lavanderia.
Lavar roupas é uma das tarefas mais chatas da vida a bordo, porque toma bastante tempo. É comum a gente perder um dia inteiro com isso.



Muitos barcos já têm máquina de lavar roupas. O nosso veleiro vem com um local próprio para instalar uma. Nós optamos por não instalar.
Mesmo quem tem máquina acaba indo eventualmente à lavanderia para secar as roupas.


Nossos gastos com lavanderia ficam em torno de € 30,00 por mês. A lavanderia mais cara foi em Formentera ( € 10,00 a máquina para lavar e € 20,00 para lavar e secar), as mais baratas foram em Lagos (€ 8,00 para lavar, secar e dobrar 2 sacolas de roupas!) 

ABASTECIMENTO/MANUTENÇÕES

Quando estamos na marina procuramos focar em abastecer o barco, realizar algum conserto 
 e fazer as manutençoes necessárias.



 PRIVACIDADE

Estar na marina é como morar em um apartamento ou condomínio.
Temos vizinhos, regras, chaves para portas, senhas e Wi - Fi!
A questão da privacidade é bem importante, pois perdemos todo aquele sossego que existe na ancoragem.
Muitas vezes a vaga é a contrabordo do trapiche. 
 Em algumas marinas, as pessoas têm acesso aos trapiches, então ficamos bastante expostos, muito mais que um monocasco, pois o design enjanelado do catamarã faz com que todos enxerguem para dentro, proncipalmente à noite, com as luzes acesas
Claro que sempre podemos fechar as cortinas!
Mas nos sentimos numa vitrine a maior parte do tempo,



BUROCRACIA

Aqui na Europa a burocracia é nenhuma!
Como só passamos por países que fazem parte da zona Schengen, tudo o que temos que fazer ao chegar na marina é levar os documentos do barco, o seguro do barco ( aqui nenhuma marina aceita um barco que não tenha seguro) e os documentos da tripulação (passaportes).
Se não estamos na marina, não precisamos fazer nada disso.
Em algumas marinas, a polícia fica ao lado ou até mesmo dentro do escritório.
Muitas vezes sofremos fiscalizações, tanto nas marinas como nas ancoragens. 
A fiscalização nada mais é do que mostrar documentação do barco e tripulantes. Ninguém nunca revistou o barco.
A carteira de capitão do Márcio só foi pedida uma única vez.
As visitas da polícia e Aduana não parecem ter nenhum critério pre estabelecido. Recebemos visitas cedo da manhã e à meia noite, Recebemos visitas dois dias seguidos e ficamos meses em que ninguém apareceu.
De um modo geral tudo é muito tranquilo.

 E POR FIM,  PREÇOS!

Quanto custa ficar na marina?
Bem, isso depende da época do ano, da região e do tamanho do barco. Lembrando que catamarãs sempre pagam mais 50% .
 Existem 3 tabelas : baixa, média e alta temporada
Em Camariãs, na Galícia nossa diária foi € 17,00
Em Óstia, a diária foi € 140,00
Pequena variação, né?
Para não ter surpresas, recomendo os livros da Imray, que trazem uma lista com todas as marinas que existem e a classificação de preços (charge band) que vai de 1 a 6




Também existe um aplicativo onde você coloca o tamanho do barco 
e a marina e ele calcula o valor.

Se você sentiu falta de alguma coisa ou se ficou com alguma dúvida, não exite em perguntar!!

Comentários

  1. bom!
    estou iniciando no mundo da vela, gostei das informações.
    estou no Brasil, SP e sou arrais.
    pretendo ter barco , morar e navegar.
    bons ventos para vcs!!!

    ResponderExcluir
  2. Bacana vocês compartilharem todas essas informações, são muito úteis. Moramos em Brasília, mas nosso sonho é velejar mundo afora. Bons ventos, estaremos acompanhando suas aventuras.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gostou!! Também sentíamos falta de várias informações quando estávamos organizando a viagem. Por isso resolvemos escrever sobre isso. Qualquer dúvida é só perguntar!!

      Excluir
  3. Embora eu não seja praticante de nenhuma forma náutica, me identifico porque sou adepto de Motor Home há quase cinquenta anos. Pela descrição, a operação de um grande barco e um MH é muito semelhante, inclusive os respectivos equipamentos. Mas sair ¨mundo-a-fora¨como vocês fizeram, é muito fascinante e corajoso. Parabens e muita sorte !
    Uma curiosidade Alessandra: teu sobrenome Machemer tem algo a ver com Frederico Machemer ? Ele foi um cliente para o qual fabriquei um MH lá por 1980 e terminamos amigos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Paulo!
      Sim!!! Frederico Machemer é o nome do meu sogro e do pai dele. Ambos já faleceram, infelizmente. Acredito que o motor home tenha sido fabricado para meu sogro. Pois sei das histórias de idas a Florianópolis de motor home que meu marido conta!
      Realmente o barco tem muita coisa a ver com o motor home!
      Um forte abraço!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

CARTAGENA - ESPANHA - VIVENDO A HISTÓRIA

Chegamos a Cartagena depois de 27h no mar. Sair das Ilhas Baleares foi doloroso, ficou aquela impressão de que tínhamos tanta coisa para conhecer misturada com a certeza de que tão cedo não teríamos aquela vida de praia, sol, mar e biquíni o dia todo. Estamos no outono Europeu, as Ilhas Baleares não são mais aquelas   ilhas com mar transparente e tranquilo, e temos que seguir adiante, pois, apesar de termos esta aparente liberdade, somos sujeitos ao clima, às estações do ano, às correntes marítimas e temos um cronograma a seguir. Nosso próximo destino: Cartagena. Não sabíamos muito o que esperar, sabíamos o que tínhamos lido no nosso livro da Imray e o que tinha nos contado um amigo velejador que havia estado por lá. Chegamos na marina “Real Clube Regatas de Cartagena” às 9:30 local, e nos foi indicada uma ótima vaga em um trapiche de concreto atrás de um palco se shows (!?) A gente não sabia se isso seria algo bom ou ruim, hehehe A marina é totalmente aberta, e fica

TRAVESSIA DO OCEANO ATLÂNTICO

  Autor:Alessandra  No dia 25 de novembro de 2018, partimos de Las Palmas, em Gran Canaria em direção a Santa Lúcia, no Caribe. Uma navegada de 2.800 NM, a maior distância que percorremos sem paradas, até agora. Foram 20 dias no meio do mar, apenas nós 4: Márcio(48), Alessandra(46), Henrique(18) e Carolina(14). Um verdadeiro teste para  nossas habilidades como navegadores  e para nosso relacionamento como família. Nossa rotina diária consistia em revisar todos os cabos e estaiamento buscando por desgastes anormais,    manter um controle sobre a navegação e regulagem das velas , observar a quantidade de água consumida e produzir água sempre que necessário.  R evisar o estoque de frutas e legumes,  preparar as refeições,  ler, estudar (Carolina), praticar yoga (Ale) assistir algum filme que tínhamos baixado na Netflix, descansar o máximo possível durante o dia e fazer os turnos durante a noite. Já nos primeiros dias nos surpreendemos em como entramos rápido