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Despedida do Aruna



Lentamente, bem mais lenta, do que esperávamos, estávamos resolvendo o emaranhado de questões que envolvem uma viagem como a nossa.
Um dos pontos mais importantes era a venda do nosso querido Aruna.
Entretanto, em meio a uma enorme crise econômica e política, as propostas foram poucas e todas envolvendo trocas.
E, uma vez que precisávamos  de dinheiro, não adiantava  nada ficarmos sem barco mas com uma cobertura em Capão da Canoa ou um loft no Morumbi.
Nesse meio tempo, surgiu uma proposta do nosso amigo Germano da Wind Charter.
O barco seria comprado pela Wind junto com outro investidor e passaria a ser utilizado nas operações de charter.
Proposta feita, proposta aceita.
Aproveitando umas folgas minhas e a semana de férias das crianças resolvemos sair para uma velejada de "despedida" do Aruna, uma vez que nos próximos quinze dias ele seria levado para Paraty.
Dia quente para o inverno gaúcho, com céu azul e pouco vento e lá fomos nós para um pernoite na Praia do Arado.
Antes da partida, enquanto abastecíamos o barco com água e comida, resolvi colocar nos tanques mais trinta litros de diesel que eu já tinha a bordo a algum tempo dentro de uma bombona plástica.
Quando já estávamos quase chegando resolvo ligar o motor para manobrar e ancorar.
Então o que nunca tinha acontecido em todos esses anos com o Aruna acontece.
O motor funciona por alguns minutos, faz um barulho estranho, solta uma fumaça preta e apaga.
Quando eu abro o compartimento do motor para inspecionar encontro o filtro de óleo diesel completamente sujo. Troco para o filtro auxiliar e ele começa a sujar também  instantaneamente. É isso. O motor já era por hoje.
Decidimos iniciar o retorno para pernoitarmos no Tranquilo, atrás do morro da Ponta Grossa que nos protegeria do vento sul que a essa altura já soprava com quinze nós constantes.
Com a proa para o morro fomos velejando enquanto uma noite sem lua surgia.
A umas duas milhas da ponta do morro que deveríamos contornar começa a acontecer outra coisa estranha.
As referências visuais que eu tinha, que já não eram muito boas em função da noite escura, começam a sumir até que o morro inteiro desaparece.
Somos envolvidos por um banco de nevoeiro tão espesso que passamos a não enxergar nada além da proa do barco.
Agora estava ficando divertido. Sem motor, sem visibilidade nenhuma e próximos a um costão de pedra.
Agradecemos ao Santo GPS que nos guiou até o local da ancoragem que ocorreu sem maiores problemas.

Depois disso achamos melhor abrir uma garrafa de vinho e explicar melhor para o Aruninha esse negocio de despedida.


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