Outro dia, falando com um colega aviador com mais de sessenta anos, cabelos brancos e uma vida inteira dedicada ao voo sobre o nosso projeto de velejar em família por dois anos ouvi o seguinte comentário :
- " Mas Comandante, fico surpreso com sua ideia. Dois anos abordo de um veleiro? Veja bem... Nós somos aviadores. O que temos que fazer é voar."
Esse experiente piloto não falou isso com nenhuma maldade. Pelo contrário. O objetivo dele era me trazer de volta à realidade. Ou a lucidez.
Essa era a realidade dele. Ora pilotos voam. Se somos pilotos é isso que devemos fazer. E ponto final.
Mas será que é isso mesmo. Será que nessa vida só podemos ter um papel?
Será que um piloto não pode decidir ser mergulhador, físico nuclear ou monge budista?
Mais do que isso: o que é que somos realmente? Será que eu SOU um piloto?
Isso é o meu eu?
Ou será que o meu eu é algo que está em uma camada muito mais profunda, bem abaixo da escolha profissional e de muitas outras escolhas.
Os caminhos que decidimos trilhar durante a vida não significam tanto assim.
Quase sempre há um desvio, um retorno.
Nossas escolhas não são o que somos. Elas são como roupas que cobrem o nosso corpo e que podem e até devem ser trocadas de vez em quando.
Vamos nos dar ao direito de vestir outras roupas, outras cores.
Vamos nos dar ao direito de ficarmos pelados!
Se entendermos isso ficará muito mais fácil decidir mudar.
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