No domingo de Páscoa pela manhã finalmente saímos de La
Rochelle em direção a Espanha.
A cidade de La Rochelle é um paraíso para quem gosta de
veleiros.
Nunca tínhamos visto tantos barcos interessantes juntos.
Aliás, nunca tínhamos visto tantos barcos juntos!
Mas estava na hora de avançar. O clima não estava dos mais
hospitaleiros, com vários dias com temperaturas próximas a zero e alguns dias
até mesmo com neve. Além disso toda a tripulação estava ansiosa para uma
navegada mais longa.
As janelas de tempo de mais de três dias simplesmente não
estavam aparecendo, então decidimos seguir para Gijon na Espanha o que
significaria uma velejada de umas 270 milhas que pretendíamos fazer em torno de
quarenta e oito horas.
E a velejada teve de tudo. Nas primeiras horas, depois da
saída do porto o mar começou a levantar e a proa começou a enterrar nas ondas
com um barulho forte. Em pouco tempo toda a tripulação estava verde. Nada muito
animador para quem estava saindo para dois dias de mar aberto.
Mas à tarde as coisas começaram a melhorar. O vento passou a
vir do quadrante certo, soprando a agradáveis quinze nós. As ondas curtas se
transformaram em rolões e o Biguá começou a gostar da brincadeira. Além disso
passamos a ser escoltados por uma quantidade grande de golfinhos que ficaram ao
nosso lado por bastante tempo.
Organizamos os turnos de vigia montando duas duplas que
trabalharam por duas horas de cada vez e o esquema funcionou bem.
Havia uma quantidade grande de navios, mas sobre esse
aspecto o AIS é uma grande ajuda.
Trata-se de algo equivalente ao transponder na aviação. Um
equipamento que nos mostra todos os tráfegos ao nosso redor (desde que eles
também possuam AIS) e também permite que esses tráfegos nos vejam. Isso diminui
muito o risco de colisão. E aumenta a qualidade do sono.
Na segunda noite, tínhamos andado tão bem que a previsão de
chegada tinha sido bem adiantada. O que significava que teríamos que entrar no
porto ainda a noite.
Entrar em um porto desconhecido no escuro nunca é uma boa
ideia. Então resolvemos aproveitar que o vento estava diminuindo mesmo e
baixamos todos os panos para esperar algumas horas.
Uma hora depois o vento foi a zero e o mar ficou espelhado.
Foi uma experiência bem interessante. Estávamos completamente parados, como se
o barco estivesse no seco, em uma noite escura sem enxergar nada para fora com
quatro mil metros de água abaixo de nós.
Passada mais uma hora o vento começou a voltar. Beleza! Hora
de voltar a velejar. E sobe vela.
Dez nós de vento. Quinze. Vinte, vinte e cinco, vinte e oito
agora com ondas. Chega. Hora de rizar as velas. E a tripulação correndo pra lá
e pra cá no meio da madrugada.
No meio da ventania falei para a Alessandra: - Esse tempo
aqui é coisa de maluco!
E ela me respondeu: - Velejar é que é coisa de maluco...
Mas ao amanhecer o vento tinha diminuído novamente e
entramos com vento calmo em um belo porto espanhol. Um que conquistamos a vela!
Tudo novo, todos felizes e já pensando na próxima navegada.
.Velejar é coisa de maluco mesmo.
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