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Como compramos um barco na Europa (sem nunca ter visto esse modelo)



Alegria no barco novo


Quando o novo Lagoon 42 foi lançado na França o barco nos chamou a atenção. As linhas eram modernas, a mastreação tinha sido modificada para melhorar a performance e o modelo estava sendo muito bem falado pela imprensa internacional.Tanto que no ano de 2016 o modelo havia ganhado os principais prêmios de catamarã do ano como por exemplo os das revistas Cruising World e Sail Magazine.

Lagoon 42

Mas era mais ou menos só isso. Nunca tínhamos visto o barco. Não havia nenhum no Brasil. E na verdade, sempre tendo velejado em monocascos  não sabíamos quase nada sobre catamarãs. Nunca tínhamos velejado nem uma milha sequer em um deles.
Conforme o projeto de ficarmos dois anos velejando em família foi ganhando forma a idéia de realizá-lo em um catamarã foi ganhando força.
Além das questões técnicas das quais já falei o conforto e privacidade que um catamarã pode oferecer só são comparáveis aos de um monocasco muito maior.

Recebendo o barco em Les Sables D'Olonne - França


Aqui em casa somos quatro. Dois adolescentes. Portanto, dividir cabines ou banheiros durante dois anos estava fora de questão. Seria o caminho do hospício.


Parte da tripulação do Biguá



Começamos a procurar por um catamarã usado no Brasil.
Infelizmente esses barcos ainda não são muito populares no nosso país. Isso significa que as opções são muito poucas e caras.
O próximo passo foi  procurar por um catamarã usado no Caribe através de sites na internet. Pesquisamos dezenas de opções mas nada parecia muito bom. Ou o barco era muito usado ou muito caro. Além disso, como o projeto tinha data de início e fim tínhamos que nos preocupar com a liquidez na hora da venda. Não iria adiantar nada comprar um barco barato mas que não conseguíssemos vender na hora de voltar para o Brasil.
Nesse ponto resolvemos avaliar, só de curiosidade, o preço de um barco novo, entregue pela fábrica na França.
Esse tipo de negociação não pode ser feito direto com o fabricante e sim através de um vendedor autorizado. 
Disparamos e-mails para vários deles. Ninguém tinha o 42 para entregar perto da data que nos interessava. A fila de espera era enorme. Mas, interessantemente, o preço não ficava tão longe dos modelos usados que estávamos olhando. Além disso havia também a questão da revenda. Acreditamos que, no fim do projeto, a chance de vender rápido e sem perder muito dinheiro um Lagoon 42 quase novo será bem maior da que a de vender uma barco mais antigo.
Começamos a conversar com alguns distribuidores europeus mas sempre esbarrávamos na questão do prazo. Quase um ano de espera.
Foi quando falamos com o Eduardo da Sailing, distribuidora da Lagoon no Brasil. E incrivelmente ele tinha um barco para ser entregue na data que queríamos. 
A partir daí todo o processo de compra e configuração do barco passou a ser feito em português, ligando para o Rio de Janeiro e não para Europa, o que sempre acaba facilitando um pouco as coisas. Por melhor que todos falem inglês ( e nem sempre esse é o caso), um brasileiro falando com um francês em inglês sempre gera umas falhas de comunicação.
Nessa fase também foi muito importante a figura do Manoel Beltrão. Um brasileiro que mora em Portugal, é velejador e nos auxiliou em todo o processo de regularização do barco. Como nosso barco não virá para o Brasil por uma questão de impostos de importação ele tem uma bandeira de Gibraltar.

Sim, a bandeira é de Gibraltar

Tudo isso pode ser bem complicado para quem não tem o conhecimento necessário. Entretanto com a ajuda do Manoel foi muito simples e fizemos tudo sem sair de casa.
Depois disso começou a novela da abertura de uma conta bancária no exterior e a tortura de acompanhar a taxa de câmbio do euro subindo mais que um foguete em uma economia instável com a nossa. 
Mas isso já história para outro post.



Biguá em Portugal



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