Logo pela manhã recebemos um chamado da ARC avisando que um veleiro estava em emergência. Tinham perdido o mastro, estavam com problemas no leme e não tinham combustível suficiente para seguir no motor até Santa Lúcia.
Nós também estamos
consumindo muito mais combustível do que o previsto.
Depois da perda do gerador
tivemos que passar a carregar as baterias com o motor.
Mesmo assim fizemos
as contas e vimos que podíamos fornecer 100 litros a eles. Fizemos meia volta,
contra o vento e com ondas de proa e começamos a procurar pelo barco com a
última posição que a ARC havia nos fornecido. Tarefa complicada no mar.
Não conseguíamos
contato via rádio e o equipamento que fornece a posição deles foi arrancado
junto com o mastro.
Depois de várias
horas nos aproximamos e conseguimos contato via rádio. A partir daí começamos a
atualizar nossas posições constantemente. Mas ainda assim não conseguíamos
avistar o barco. Apesar de ser um veleiro de 50 pés estava sem mastro e
consequentemente sem velas. Além disso o barco é branco assim com a crista de
todas as ondas do mar a nossa volta.
Só conseguimos
encontra-los já no final da tarde, quando eles lançaram um foguete luminoso.
Nesse meio tempo um
veleiro alemão também já estava vindo para prestar socorro.
Quando chegamos próximos
do barco avariado percebi o risco da tarefa de transferir os cinco camburões de
diesel.
O mar estava
grande, com os veleiros dando várias surfadas de quase dez nós e, ainda por
cima, eles estavam com dificuldades no leme.
Começamos a nos
aproximar lentamente do costado deles para que eles no jogassem um cabo. Se os
barcos se tocassem o estrago seria feio.
Nesse momento
aconteceu algo realmente incrível.
Uma baleia enorme, apareceu ao nosso lado, entre os barcos, nadando na superfície.
Quase podíamos toca-lá.
Ela ficou todo o
tempo que durou a manobra nadando em torno do Biguá.
Foi uma visão
impressionante e um momento mágico. Parecia que ela estava tomando conta de
nós.
Depois de várias
tentativas conseguimos pegar o cabo que eles nos jogaram, amarramos a dois
camburões, colocamos o cabo na água e posicionei o Biguá na proa do barco deles
para que eles pegassem o cabo que estava flutuando. Um pouco complicado porque
quando eu acelerava o cabo se afastava e quando eu reduzia eles quase entravam
no nosso cockpit.
Entre várias
tentativas e erros conseguimos transferir os cinco camburões de que eles tanto
precisavam.
Quando a manobra
terminou e começamos a nos afastar nossa amiga cetácea mergulhou e desapareceu
no azul escuro do mar abissal.
No convés do
Garuda, o barco desmastreado, a tripulação inteira composta por quatro ou cinco lobos do mar, nos acenava e agradecia emocionada.
E nós com a
sensação de que algo muito especial tinha acontecido e que tínhamos cumprido
com nosso dever.
Um dia para ficar
na memória de todos nós até o fim da vida.
Tripulação do "Biguá" e tripulantes do "Garuda" em Santa Lúcia |
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